quarta-feira, 24 de abril de 2013

MUSHIN: O ESTADO DE NÃO-MENTE


MUSHIN: O ESTADO DE NÃO-MENTE

A essência das artes marciais se orienta preponderantemente para um aperfeiçoamento do ser humano. Porém, nos últimos anos, as novas organizações dos diversos segmentos desta área têm enfatizado o desenvolvimento do tipo "tecnicista-materialista". O pensamento unicamente técnico vem transformando as artes marciais tradicionais em uma mera prática física. Todavia, as artes marciais orientais se diferenciam das ocidentais, e quando aqui são difundidas perdem a sua conotação de sabedoria e originalidade.

É interessante notar a distinção entre "Jutsu", que consiste na arte por si mesma, e "Do” que se constituí na arte como uma trilha de evolução. A ênfase deve sempre dada na atividade como "caminho", que está voltada para o desenvolvimento da consciência e para o autoconhecimento, que é a meta suprema da vida.

O treinamento técnico é de grande importância, mas, de certa forma, artificialmente adicionado e adquirido. É necessário que a mente que dispõe de uma habilidade técnica esteja sintonizada em um estado de fluidez no qual se torne "una" com o objeto de criação, através de uma identificação profunda que só surge quando se experimenta o estado de "vazio", de "não-mente", chamado pelos japoneses de "Mushin".

O mundo do artista é um mundo de livre criação e isso só pode surgir através da intuição direta da essência do objeto de criação e não pelos sentidos ou pelo intelecto. O artista cria formas e sons a partir do amorfo e do sem som. O estado chamado Mushin é indispensável ao processo de criatividade espontânea, assim o artista necessita desenvolvê-lo para que toda sua vida seja um processo de criação constante.

Este é exatamente o estado mental que se desenvolve através da disciplina Zen Budista. Os mestres "Zen" adquirem a intuição fundamental à criação artística, desenvolvem a habilidade de sintonizar a mente em um estado de fluidez, mobilidade e espontaneidade que são essenciais à atividade criativa, de forma permanente e não de forma fugaz, instantânea e imprevisível como acontece com o artista comum, que fica a mercê de uma inspiração da qual ele não tem controle, não sabe quando virá.


*** Pesquisa por Denis Andretta - Shito-Ryu/RS.Esta mensagem foi enviada por Denis Andretta




Mushin - o que é ?

do livro "A Doutrina Zen da Não-Mente"
de Daisetz Teitaro Suzuki


O que é mushin (wu-hsin em chinês)? O que quer dizer "estado de não-mente" ou "estado de não-pensamento"? É difícil encontrarem no português o termo equivalente, a não ser talvez a palavra "inconsciente", embora até mesmo ela deva ser usada num sentido particular. Não é o sentido comum de Inconsciente da psicologia, nem o sentido que lhe é atribuído pela psicanálise, onde ele significa muito mais que a mera falta de consciência; mas, provavelmente, no sentido de "terreno insondável" dos místicos medievais ou no sentido de Vontade Divina anterior à revelação do Verbo ao mundo.


Mushin ou munen deriva primariamente de muga, wu-wo, anatman, "não-ego", "não- identidade" — que é a principal noção do Budismo, tanto Hinayana quanto Mahayana. Com o Buda, não se trata de um conceito filosófico, mas da sua própria experiência; toda a teoria posteriormente desenvolvida em torno dessa experiência constituiu uma estrutura intelectual destinada a apoiar a experiência. Quando a intelectualização se tornou mais profunda e mais adiantada, a doutrina do anatman assumiu um aspecto mais metafísico e a doutrina do Sunyata desenvolveu-se.


No que se refere à experiência em si, não havia diferença, mas a doutrina do Sunyata tem um campo de aplicação mais amplo e, como filosofia, penetra mais profundamente na fonte da experiência. Pois o conceito de Sunyata agora não é aplicável somente à experiência da ausência do ego, mas, em geral, também à experiência do estado da ausência de forma. Todos os Sutras Prajnaparamita negam enfaticamente a noção de pessoa, de ser, de criador, de substância, etc. A teoria do anatman e a de Sunyata são, praticamente, a mesma doutrina. O Prajna acompanha o sunyata e passa a ser um dos principais temas dos Sutras.


O T`an-ching, de Hui-neng, refere-se constantemente à natureza de Buda e à natureza-própria. Ambas significam a mesma coisa e são originalmente, por natureza, puras, vazias, Sunya, não-dicotômicas e inconscientes. Esse Inconsciente puro e desconhecido move-se e desperta o Prajna; e com o despertar do Prajna, surge o mundo das dualidades. Esses eventos, porém, não são cronológicos; não são eventos que se dão no tempo; e todos esses conceitos — como natureza-própria. Prajna, mundo de dualidade e de multiplicidade, são pontos de referência destinados a facilitar e a tornar mais clara a nossa compreensão intelectual. A natureza-própria não tem, portanto, uma realidade correspondente no espaço e no tempo. Pelo contrário, estes é que surgem da natureza-própria.


Outro ponto que devo esclarecer melhor nesta conexão é que o Prajna é o nome dado por Hui-neng à natureza-própria (ou Inconsciente) quando esta se torna consciente de si, ou melhor, indica o próprio ato por que ela se torna consciente de si. O Prajna, portanto, aponta para duas direções: para o Inconsciente e para um mundo de consciência — o qual, agora, encontra-se desdobrado. A primeira se chama Prajna não-discriminativa e a segunda, Prajna de discriminação.


Quando nos achamos envolvidos na direção exterior da consciência e da discriminação, a tal ponto que chegamos a esquecer a outra direção do Prajna, aquela que aponta para o Inconsciente, encontramos o que tecnicamente se chama Prapanca, imaginação. Enunciando a mesma idéia de modo inverso, podemos dizer: quando a imaginação se impõe, Prajna é escondido e a discriminação (vikalpa) se adianta, ficando então obscurecida a superfície pura e imaculada do Inconsciente ou natureza-própria.


Os defensores da teoria de munen ou mushin, aconselham-nos a evitar que o Prajna se perca na direção da discriminação e a conservar os olhos fixos na outra direção. Atingir o mushin significa recobrar, objetivamente falando, o Prajna da não-discriminação. Quando essa idéia for desenvolvida mais detalhadamente, compreenderemos o significado do mushin no pensamento zen.

Em Karate, o Kamae não é somente uma postura física, mas sim um estado de alerta mental, por isso não é necessário se estar em kamae para se defender ou atacar, basta estar em "Mushin" (mente em alerta), que o treinamento físico e mental se encarregará sozinho de responder a uma agressão. Mushin é o mesmo estado mental que se pretende conseguir na prática zen, por isso o Karate é conhecido pelos mestres Zen, como o Zen em movimento.

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