terça-feira, 27 de agosto de 2013

Budismo, Ioga e cristianismo






P: Haveria no Yogacara alguma coisa semelhante aos oito passos, assim chamados no Ioga de Ashtanga?

Venerável Dhammadipa – Não exatamente, mas a Escola Yogacara tem muitos aspectos similares aos Sutras de Patanjali. Você poderá observar diversas influências mútuas entre eles sendo que possuem um dialogo entre si muito maior do que normalmente é visto e aceito. Não há muitos bons estudos sobre esse assunto, o que é uma pena, pois essa área deveria ser melhor explorada. Essas tradições do Yoga na Índia têm mais inter-relação do que se imagina. Esse sectarismo não foi muito
encorajado na Índia. Se você visitar um lugar chamado Ellora, na Índia, irá observar lugares de iogues hindus Budistas e Jainistas vivendo lado a lado. Há relatos de viajantes chineses que visitaram a Índia e de praticantes Mahayana e Hinayana que viviam juntos nos mesmos monastérios lado a lado com os iogues hindus sem problema algum. Essa visão sectária surgiu muito tempo depois, principalmente após a invasão do Islã. Diferentes tipos de religião tentam se proteger, por isso essa abertura se perdeu.

Seria muito importante para o ocidente não estudar o Budismo de forma a evidenciar uma separação, mas sim uma união. Há uma tendência de cada escola criticar a outra e isso deveria ser evitado favorecendo o diálogo entre cada praticante das diferentes escolas. É muito importante também o diálogo com o Cristianismo que tem grande poder no ocidente. Diversas idéias são muito similares e o Cristianismo poderá se beneficiar muito com o estudo do Budismo. A China se tornou a segunda terra mãe do Budismo e daí se espalhou para Japão, Coréia etc. Um acontecimento que colaborou para tornar o Budismo forte foi seu dialogo com Confucionismo e Taoísmo e o Zen é um produto desse diálogo, que dessa forma, tornou-se acessível aos Taoístas e Confucionistas. O Taoísmo tornou-se muito rico pela influência Budista e, da mesma forma, o Budismo na forma do Zen, cresceu muito sob a influência dessas duas escolas. Esse espírito infelizmente está se perdendo no ocidente.

Como todos sabem, no ocidente as religiões eram muito opressivas, idéias de escolas diferentes não somente não eram aceitas, como eram combatidas até mesmo com violência. O Budismo pode trazer uma atmosfera mais aberta ao diálogo e dessa forma, tornar-se mais influente não só no Brasil, mas em toda a América e Europa. Mas infelizmente quase nada é feito nesse sentido. Claro que há algumas conquistas, mas estamos muito no começo, quem sabe as gerações futuras como disse Genshô Sensei possam ser beneficiadas, mas hoje não sentimos os benefícios desse diálogo entre Budismo e outras correntes, justamente por serem muito raros. Por isso o Budismo ainda é muito pouco conhecido e vocês devem tentar fazer algo nesse sentido no Brasil.

Fiquei impressionado como as pessoas são livres e abertas no Brasil, até mesmo a religião Católica é mais aberta que em outros países. Eu já dirigi e participei de retiros em monastérios católicos aqui no Brasil, realmente as pessoas são muito abertas.



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