Foi realizado, de 02 a 05 de maio, o XIV Campeonato Brasileiro JKA. Mais uma vez, a competição foi sediada pelo clube Nipon, na cidade de Arujá, SP, e contou com a presença de mais de 250 atletas.
O CURSO
Nos dias 02 e 03 foi realizado o tradicional curso pré-competição. A novidade nesse ano foi que, além dos mestres Sasaki e Machida ministrarem treinamentos de altíssimo nível, alguns atletas com mais de dez anos de Seleção Brasileira foram escolhidos para darem treinamento, focando, cada um, em suas especialidades.
Rousimar Neves (MG) foi o primeiro. Com 5 títulos brasileiros de kata individual na bagagem, esse mineiro mostrou que além de um atleta excepcional que prova que a técnica correta supera qualquer barreira física (foi pentacampeão brasileiro aos 49 anos de idade), é um professor de mão cheia. Seu curso foi sobre o Sochin, e em todos a opinião foi unânime: saímos do curso com vontade de treinar o Sochin. Sensei Alfredo Aires (RS) e Gérson Almeida (SP) o supervisionaram.
Em seguida, Wagner Pereira (SP). O capitão da Seleção Brasileira demonstrou sua técnica de gyako-gyako, de forma pedagógica e com macetes valiosos para todos. Do alto de seus 42 anos, o atual bicampeão paulista JKA de kumite individual mostrou o passo a passo de seu golpe favorito, e deu a todos os presentes a oportunidade de aperfeiçoarem seu kumite. Sensei Yasuiuki Sasaki o supervisionou.
Logo depois, eu dei um curso sobre o meu golpe favorito. Sem surpresa para ninguém, falei sobre o kizami zuki. Na verdade, não há grande segredo sobre essa técnica, ou sobre a forma como eu a aplico. Apenas mostrei a minha forma de treinamento desse golpe, desde a base, forma de pisar no chão e avanço das pernas, até a parte do braço, sem mostrar o golpe, mover os cotovelos ou ombros, e passando até pela expressão facial, que deve ficar neutra durante todo o movimento. Sensei Ugo Arrigoni me supervisionou.
Chinzô Machida (PA), veio em seguida, falando sobre o go no sem. O maior campeão da história da JKA do Brasil demonstrou técnicas de postura, tempo e distância com o intuito de recuar sem perder jamais a chance do contra-ataque. Sensei Machida o supervisionou.
Depois, veio Fábio Simões (SP), o mais carismático de todos os atletas da Seleção Brasileira. Único lutador a jamais perder uma luta pela equipe do Brasil, Fabinho deu um show com um curso sobre o deai. Começou com o kihon básico, passando por um kihon ipon, e terminando com um treinamento de deai em grupo, que foi fantástico. Sensei Kazuo Nagamine o supervisionou.
Por fim, Rafael Moreira (RS). Supervisionado pelo sensei Alfredo Aires, o gaúcho fez um treinamento de ashi barai que com certeza fez com que todos que fizemos o curso passássemos a enxergar o ashi barai com outros olhos. Deixou de ser apenas um passa-pé para se mostrar uma técnica apurada, que demanda um kihon específico. Excelente.
Para nós, foi uma oportunidade fantástica, e uma prova de que a JKA tem como objetivo a renovação, tanto de atletas quanto de mestres, mostrando que o importante não são as pessoas, mas a entidade como um todo.
A COMPETIÇÃO (aqui, como sempre, escreverei em terceira pessoa)
No dia 04 foram realizadas as categorias até 17 anos. O que se viu foram disputas acirradas entre os futuros astros da JKA do Brasil. A postura dos jovens atletas não deixou nada a desejar em relação aos adultos, e foi empolgante assistir aos meninos e meninas em ação. A renovação parece estar garantida...
No dia 05, as disputas de 18 e 19 anos, máster (somente kata) e adulto.
No 18 e 19 anos, ficou a impressão de que os jovens estão preparados para subir para a categoria adulto. Essa categoria é de transição, para que os atletas que vêm desde o infantil possam se adaptar antes de se verem entre os adultos.
No máster, pela primeira vez houve a divisão em duas subcategorias – de 40 a 50 anos, e 51 acima. Em ambas, a academia AKK (RJ) reinou absoluta. Na primeira, vitória de José Antônio, e na segunda, ouro para o seu professor, o sensei Mário Cadena.
No feminino, domínio absoluto da JKA – RS. Pela primeira vez em 14 edições, uma única academia levou todos os títulos em disputa. Mérito total do sensei Alfredo Aires, responsável pelo crescimento vertiginoso e consistente do karate JKA gaúcho.
Manuela Spessatto (RS) mais uma vez levou o ouro no kata individual, deixando a mineira Juliana Vitral em segundo. A atleta, nove vezes campeã sulamericana, mostra que fica cada vez mais difícil ser derrotada na categoria.
Tanto no kata quanto no kumite por equipes, vitória das gaúchas, deixando as cariocas da AKK Dojô em segundo lugar. Mérito das atletas do Rio de janeiro, que vieram com força total e deixaram as disputas muito acirradas.
No kumite feminino, surpresa com a derrota precoce de algumas favoritas, como a atual campeã sulamericana Juliana Vitral, e de Manuela Spessatto. Na finalíssima, Bruna Lee Cadena (RJ), travou uma verdadeira batalha contra Hannah Aires (RS). As duas empataram no tempo normal, e também no sai shiai (desempate). A gaúcha conseguiu a vitória no hantei (bandeirada) de forma justa – teve mais iniciativa durante todo o combate. Uma final de prender a respiração, arbitrada de forma excepcional pelo sensei Marcelo Miorelli (RS).
No masculino, várias academias de diferentes partes do Brasil se alternaram no lugar mais alto do pódio.
No kata por equipes, deu GRB (SP) mais uma vez. Os pupilos do sensei Ruy Koike conseguiram manter a qualidade de sua equipe, mesmo com a ausência de Rodrigo Alves, que, vindo de cirurgia no joelho, ajudava do lado de fora do koto. Destaque ainda para a equipe vice-campeã, da Sekai Kan (SP). Os alunos do sensei Gérson Almeida honraram o nome do mestre, mostrando técnica, espírito de luta e postura.
No individual, mais um ouro para o GRB, com Andrew Marques (SP), que deixou seu conterrâneo, Rogério Higashizima (atual campeão Sul-Sudeste Tradicional de kata individual) com a prata, em uma disputa decidida por décimos.
No kumite individual, lutas de alto nível entre atletas conhecidos e novas caras que apareceram e impressionaram.
Para o público foi um espetáculo ver lutas empolgantes entre alguns dos melhores lutadores de Shotokan JKA do Brasil.
No final de tantas batalhas, os quatro semifinalistas: Fábio Simões (SP), que veio de vitória sobre Adalberto Sanchez (PA); Roberto Mendes (RJ), que passou no hantei (bandeirada) por Wagner Pereira (SP); Alison Batista, que venceu César Cabral (SP); e Jayme Sandall (RJ), que passou no hantei (bandeirada) por André Luiz (SP) em luta duríssima.
Jayme e Alison se enfrentaram em duas oportunidades (semifinal do brasileiro JKA de 2011, e final do brasileiro Tradicional de 2011), e começaram a luta se estudando muito. Alison tentou um ashi barai, mas Jayme conseguiu encaixar um gyako de deai: wazari. Em seguida, entraram com kizami zuki praticamente simultâneos: 2 x 0 para Jayme, que foi para sua terceira final em 4 anos.
Fabinho usou de toda a sua experiência para vencer a maior velocidade de Roberto. De cara, o carioca entrou com um gyako tchudan, e Fabinho contra-atacou de ashi barai e gyako zuki: wazari. Em seguida, Roberto entrou novamente. Dessa vez o contra-ataque foi de haitô, que pegou em cheio no olho do carioca: 2 x 0 para Fabinho, que, assim como Jayme, chegava à sua terceira final em 4 anos.
Os dois atletas, além de velhos conhecidos dentro do kotô (essa foi a terceira final JKA entre os dois, quinta luta no total), são muito amigos. A disputa, apesar de tensa e repleta de golpes muito fortes, foi caracterizada pelo respeito intenso entre os dois.
Jayme conseguiu um melhor domínio do koto, e saiu da final com a vitória, sagrando-se bicampeão de kumite individual da JKA. Fabinho tentava o tetra.
No final, num gesto que deixou a torcida aplaudindo de pé, Fábio Simões tirou suas luvas de competição – as mesmas que vinha usando há anos - e entregou-as ao adversário. Belíssima demonstração de espírito de samurai de um lutador acostumado a ser campeão.
Por fim, a categoria mais importante: o kumite por equipes.
Na grande final, não se ouvia um único som vindo das arquibancadas enquanto a Shobukan (SP) enfrentava a JKA – RS.
Para aumentar ainda mais a emoção, ao final das três lutas, tudo empatado.
César Cabral pediu a Fábio Simões – o capitão da Shobukan:
- Deixa eu lutar o desempate. Deixa que eu luto.
Dava para ver a vontade nos olhos de Cabral, que atravessa excelente fase, tendo sido convocado em 2012 para a Seleção Brasileira Tradicional.
Do outro lado, o capitão da equipe gaúcha, Rafael Moreira.
Cabral vinha focado, e era um adversário temível. Mas o problema é que do outro lado estava um Rafael Moreira motivado. E quando ele está assim, ainda mais fazendo a luta desempate de uma equipe, fica muito difícil, para qualquer lutador do mundo...
Rafael conseguiu um deai de gyako zuki tchudan que pegou Cabral no tempo exato, conseguindo derrubar o oponente. Ipon para o gaúcho, o que deu a vitória à JKA RS. No final, o choro merecido dos campeões por equipe, que sabiam que tinham acabado de passar por uma das equipes mais fortes do Brasil em uma final de tirar o fôlego.
Agora resta aos atletas que se destacaram aguardarem pela convocação para o sulamericano JKA do Paraguai, que acontece no dia 7 de setembro.
OSS!
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