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quarta-feira, 24 de abril de 2013
O Arquétipo do Guerreiro e as conexões transculturais com o taoismo chinês no Shotokan (Psicologia)
Algumas informações são extremamente difundidas na internet, muitas delas sem o tratamento adequado dos dados. Pensando no que o símbolo do Shotokan representa, muitos autores atribuem a pintura do tigre à Hoan Kosugi, um artista japonês que seria membro de um dos grupos que solicitou à Funakoshi que permanecesse no país ensinando após a demonstração na I Semana Atlética nacional (FUNAKOSHI, 2000).
O famoso Tora-no-Maki (tigre no círculo) é usado ostensivamente como referência ao estilo de Gichin Funakoshi, tendo sido a capa de seu primeiro livro (provavelmente Rentan Goshin Karate Jutsu). A informação difundida é que Kosugi teria pintado o símbolo para representar força e coragem, dois aspectos fundamentais do Karate. Ora, força e coragem que Platão chamou de arquétipos, são padrões mentais/emocionais. Mas o que há de evidência histórica nisto? Provavelmente a coisa não é tão simples.
Sabemos que o símbolo do Judô, representa o espelho, uma das três joias do Xintoísmo, e que os símbolos do Aikidô: o círculo, o triângulo e o quadrado, representam as três joias do Xintoísmo (o espelho –círculo-, a espada -triângulo- e a gema -quadrado-). O pensamento místico, do desenvolvimento espiritual através das vias ascéticas e meditativas, permeava o pensamento dos mestres orientais no período. Sabemos também que Funakoshi teve relações de amizade com Kano e Ueshiba (STEVENS, 2005). Há uma diferença porém: Funakoshi nãoera japonês, e portanto, pouca influência do Xintô, o culto indígena japonês, deve ter tido. Suas concepções budistas iam em outra direção simbólica. Como é clara a ligação entre o Karate e os estilos marciais chineses internos, especialmente o do grou, ou garça branca, é importante pensarmos sobre possíveis conexões entre o pensamento dos guerreiros que tinham como caminho o Karate e os sistemas filosófico-religiosos chineses.
Quanto a isso, em finais de 2009, tivemos a felicidade de obter um denso material sobre o budismo e vários sistemas religiosos do professor Schumacher (2004). Entre estes, havia muitas referências aos cinco animais sagrados guardiães das direções cardeais e das constelações do firmamento: Genbu (a tartaruga negra – elemento terra/água), Seiryu (o dragão azul – elemento água/madeira), Byakko (o tigre branco – elemento vento/metal), Suzaku (o pavão vermelho – elemento fogo) e Huang Long (o dragão amarelo – elemento éter/terra). Ora, o elemento vento ou metal, das coisas lineares e que tem direcionamento, que remetem à nossa capacidade do pensamento, estão conectados aos arquétipos junguianos do guerreiro e do líder. Por acaso ou não, portanto, Funakoshi teria utilizado o arquétipo taoista do caminho do Guerreiro para dar identidade ao seu estilo, ao Karate. O relevo taoista acima, do século VI a.C. parece não deixar dúvida quanto à conexão da imagem do Tora-no-Maki com o Byakko taoista, ambos representando o caminho do guerreiro, o norte, o vento ou metal, os pensamentos, o uso correto do poder, o posicionamento, a capacidade de estar presente e os diferentes significados ligados a este símbolo.
REFERÊNCIAS
ARRIEN, Angeles. O Caminho Quádruplo: trilhando os caminhos do Guerreiro, do Mestre, do Curador e do Visionário. São Paulo: Ágora, 1998.
CARR, Michael. Chinese Dragon Names. Linguistics of Tibeto-burman Area. Melbourne, v. 13, n. 2, p.87-90, out. 1990.
FUNAKOSHI, G. Karatê-Dō: Meu Modo de Vida. São Paulo: Cultrix, 2000.
_______________. Karatê-Do Nyūmon: Texto Introdutório do Mestre. São Paulo: Cultrix, 1999.
_______________. Karatê-Do Kyōhan: The Master Text. Tóquio: Kodansha International, 1973.
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
JUNG, Carl Gustav. Sobre os Arquétipos do Inconsciente Coletivo. Zurique, 1954.
MACIOCIA, Giovani. Os Fundamentos da Medicina Chinesa: Um texto abrangente para Acupunturistas e Fitoterapeutas. São Paulo: Roca, 2007. 1000p.
NAKAZATO, J.; et. al.. Okinawa Karate and Martial Arts with Weaponry. Okinawa: 2003. Disponível em: www.wonder-okinawa.jp/023/eng. Acesso em: 20 jun. 2005.
SCHUMACHER, Mark. Japanese Budhist Statuary: Gods, Goddesses, Shinto Kami, Creatures and Demons. 1995. Disponível em: http://www.onmarkproductions.com/html/ssu-ling.shtml, acesso em: 29 mar. 2010.
STEVENS, J. Três Mestres do Budô: Kano, Funakoshi, Ueshiba. São Paulo: Editora Cultrix, 2005.
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